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GREGORIO REYNOLDS
(Sucre, Bolivia, 1882- 1948)
O poeta é de Sucre, capital histórica de Bolívia. Fez-se famoso em La Paz, onde morreu. Com Tamayo, seu companheiro também nesta reunião brasileira de poetas de nossa América, Reynolds é um dos fundadores do modernismo boliviano, que alcança altura luminosa, com elegância formal e riqueza metafórica, na geração de Oscar Cerruto. Se soneto para a lhama é um primor de refinado trabalho de construção da poesia... De seus tantos livros, distinguem-se:
Quimeras (1915), El cofre de psiquis (1918), Redención (1925),
e Prisma (1938).
MELLO, Thiago de. Poetas da América de canto castellano. Seleção, tradução e notas de Thiago de Mallo. São Paulo: Global, 2011. 495 p. - ISBN 978-5-260-1561-6 - 18,5 X 26,5 cm. -
Ex. bibl. Antonio Miranda
TEXTOS EM PORTUGUÊS
Tradução de Thiago de Mello
A LHAMA
Inalterável, pela terra avara
do altiplano, ostenta a formosura,
de seu passo indolente e sua postura,
a sóbria companheira do aimará.
Parece, quando lânguida ela para
e contempla a aridez dessa planura
que em suas grandes pupilas a amargura
da desolada terra se estancara.
Ou erguida a cerviz ao sol que desce
e de joelhos, ouvindo o miserere
pavoroso do vento pela puna,
ela espera que do altar da neve
o sacerdote imaterial eleve
o esplendor eucarístico da lua.
MÁSCARA
(fragmento)
Canta a fonte conventual
como a alma do santo zagal
que guiou sua grei ao aprisco
onde mora o Cordeiro Pascual.
Igual
ao humilde e glorioso Francisco,
reza a fonte sororal.
A fonte difunde a sua profunda
canção de eternidade.
Como uma laguna
brilha o vago reflexo
da lua na lua
do espelho.
Nas brasas se acelera
a dança das chispas.
A canção das borbulhas cresce,
reclama a caçarola.
Brinca de esconder o arroio
e soletra seus murmúrios.
Contente e alvoroçada
ri a menina no balanço.
Primeiras chuvas... Com sua carga
de folharal em pedaços e migalhas,
em procissão interminável
mudam de casa as formigas.
MUSMÉS
Boquinhas de framboesa, olhos de anis,
finas sobrancelhas reviradas.
Morfina, fúlgido nirvana;
deleite de sentir
que não se sente nada.
Fortuna, mulher sem rumo,
mulher que se oferece a todos,
mas a nenhum se entrega.
A pegajosa gelidez dos mortos.
Concentrada gruda nas mãos.
Não adianta esfrega-las.
Dá vontade de raspá-las.
Cérebros:
Relogiozinhos descompostos
sem remédio.
Descompassam sempre
ou de súbito param.
Cada relógios, hora diferente.
Duas da tarde no relógio da aldeia.
Duas da tarde, hora insípida.
Zumbe a mosca invisível do tédio.
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Página publicada em maio de 2021.
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